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Artigo

INESC TEC cria robô pintor que vê e aprende

O INESC TEC integra um consórcio que desenvolveu um sistema de pintura robotizado – o SMARTPAINT – capaz de “ver” e imitar os movimentos de operários fabris. Aumentar a produtividade e mesmo libertar os operários especializados, colocando-os em tarefas mais nobres, conquistar vantagens competitivas, evitar tarefas repetitivas e o contacto continuado com ambientes nocivos para a saúde são os principais objetivos deste equipamento inovador. O próximo passo é a exportação para mercados externos emergentes.

29 novembro 2012

Próximo passo é exportação para o Brasil

Tecnologia portuguesa marca pontos

É na empresa nortenha FLUPOL que está já a ser usada esta tecnologia inovadora com “mão” do INESC TEC. A FLUPOL é uma PME que opera no setor da Engenharia de Superfícies, executando revestimentos funcionais antiaderentes, anticorrosivos e autolubrificantes, o que requer um elevado grau de especialização dos seus operadores, bem como uma grande flexibilidade dos meios de produção. São normalmente necessários oito anos para a formação especializada de um operário fabril, algo que se deve às exigências dos processos utilizados na empresa, mas com o sistema autónomo desenvolvido pelo INESC TEC essa realidade deixa de existir.

Robô PintorRobô Pintor

Sem interferência direta de um programador, cada manipulador robótico pode ser programado diretamente pelo próprio operário especializado, que prepara o equipamento para várias séries de movimentos que irão tratar uma vasta gama de peças. De acordo com António Paulo Moreira, coordenador da Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) do INESC TEC, “o operador consegue criar um programa para o manipulador (robô) apenas demonstrando a operação a ser executada”. Para o investigador, trata-se “de uma forma muito mais simples, rápida e eficaz de programar manipuladores do que as formas tradicionais”. Mas não se pense que o robô é apenas capaz de replicar uma determinada operação; o robô consegue ainda identificar cada peça e revesti-la selecionando o programa mais adequado, previamente ensinado.

Mais do que uma poupança ao nível dos anos de formação necessários, o sistema vai libertar os operários especializados de tarefas manuais repetitivas que podem causar lesões por esforço contínuo, e ainda minimizar situações de contacto com ambientes nocivos (tintas, dissolventes) para a saúde dos trabalhadores. Desta forma, o know-how dos operários é utilizado sem o constrangimento da diminuição de capacidade física. Tudo isto permite aumentar a produtividade dos operários especializados, outra das mais-valias deste projeto. Este projeto foi, portanto, o caminho para se conseguirem vantagens competitivas, levando o “laboratório” para a “fábrica”.

Robô PintorRobô Pintor

Traçando o caminho para o Brasil

A FLUPOL é a primeira empresa portuguesa a adotar um manipulador robótico que usa visão artificial para reproduzir movimentos humanos. E ao poupar o tempo de formação necessário, esta PME, localizada no Concelho de Valongo, conseguirá aumentar a sua atividade e começar a agilizar o processo de exportação de unidades de produção para mercados-chave. Um dos mercados-chave identificados por José Bandeira, CEO da FLUPOL, é o Brasil. Isto acontece porque preço do produto vai excluir, com uma fábrica no Brasil, custos de distribuição e taxas alfandegárias, o que o torna bastante competitivo.

Esta empresa é já líder a nível nacional, exportando já mais de 75% do que produz, maioritariamente para as indústrias automóvel e alimentar. Isto é resultado da falta de dimensão crítica do mercado nacional que obriga a empresa a depender do mercado externo. Para José Bandeira, existe uma necessidade de expansão, através da replicação de unidades industriais em países emergentes, “sem nunca comprometer a flexibilidade do sistema produtivo, e muito menos a qualidade dos serviços”. “Isso é de difícil satisfação se mantivermos o processo tradicional de formação de operadores”, afirma. A tecnologia vai então permitir à FLUPOL “ultrapassar esse handicap, transformando manipuladores robotizados em aprendizes com rápida velocidade de progressão”, esclarece José Bandeira.

Robô PintorRobô Pintor

De acordo com o CEO da empresa, a participação do INESC TEC neste projeto foi “fundamental e sem este Instituto não teria sido possível desenvolver este projeto”, considerando que a tecnologia de base – o sistema de aprendizagem por demonstração, o sistema de reconhecimento de peças por laser e o sistema de gestão de programas de pintura – “foi integralmente desenvolvida por investigadores do INESC TEC”, acrescenta.

Uma estratégia de diferenciação

O SMARTPAINT nasceu no âmbito do projeto SIIARI (Sistema para o Incremento da Inteligência Artificial em Robótica Industrial), desenvolvido por um consórcio liderado pela FLUPOL, e que conta com a expertise de duas Unidades do INESC TEC, designadamente a Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) e a Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP). O consórcio inclui ainda a Companhia de Equipamentos Industriais (CEI) e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Robô PintorRobô Pintor

A eficácia da célula robótica foi já comprovada numa apresentação pública que se realizou no dia 12 de novembro nas instalações da FLUPOL, e que contou com a presença de representantes de todos os membros do consórcio. Os visitantes tiveram a oportunidade de assistir a uma apresentação sobre o projeto e de ver a tecnologia em funcionamento. Já eram conhecidas as competências do INESC TEC no desenvolvimento de sistemas autónomos. E com este equipamento, mais do que a experiência do INESC TEC em duas áreas-chave – a robótica e a engenharia de produção – confirmam-se os benefícios que a união destas vertentes pode trazer para a indústria nacional.

A utilização deste tipo de equipamento pode ser particularmente benéfica para as PME, ainda mais num momento de crise económica como a que o país atravessa. Quem o confirma é José Bandeira, que se diz um “convicto apoiante dos resultados do famoso relatório Porter, segundo o qual deveríamos assentar o nosso crescimento no que sabemos fazer bem. O SIIARI vai permitir-nos replicar o que sabemos fazer bem com fiabilidade e mantendo a ‘arte’”, adianta. António Paulo Moreira partilha da mesma opinião, afirmando que a junção destas duas áreas de excelência no INESC TEC para criar projetos deste tipo, algo que confirma cada vez mais a transversalidade da investigação deste instituto, é o caminho para “aumentar a produção nacional e permitir que a robótica entre nas pequenas e médias séries de produção”, finaliza.

BIP de novembro de 2012