Concordo perfeitamente. Para conseguir aumentar a eficiência energética, reduzir consumos e se tomar mais inteligente a utilização de energia, é preciso termos sistemas de informação que nos ajudem a encontrar as soluções óptimas de operação de processos industriais, do funcionamento dos edifícios e do sistema de energia como um todo. O sistema energético tem uma grande dependência dos combustíveis fósseis, o que aumenta o número de emissões de CO2. Só com a ajuda desse tipo de soluções é que é possível reduzir o volume das emissões.
É a exploração da informação para encontrar as soluções que permitam a optimização do funcionamento dos sistemas.
Compensa, seguramente, porque, normalmente, conseguem-se ganhos significativos. Haverá, provavelmente, duas maneiras de tomarmos os processos mais eficientes. Uma é investir mais em infra-estruturas, que, normalmente, são investimentos pesados e com um peso financeiro significativo. Ou, em vez disso, investir num sistema de informação que seja capaz de controlar e gerir de forma inteligente uma infra-estrutura, o que é mais barato.
Aquilo que se está a fazer, hoje em dia, é, exactamente, tentar reduzir os investimentos em grandes infraestruturas e, em vez disso, explorar melhor as que temos, à custa de investimento em "inteligência" para assim conseguir ter um sistema que é globalmente mais eficiente. Com isto, conseguem-se ganhos interessantes, sob o ponto de vista económico.
Além de que, muitas vezes, o investimento em infraestruturas pesadas é até difícil de realizar por restrições ambientais. Portanto, temos de gerir melhor as infra-estruturas que existem e não expandir o hardware. Esta é a aposta inteligente.
Na área dos edifícios, por exemplo. Temos de ter edifícios mais eficientes, mas a maioria dos edifícios que existem não estão preparados para isso. Para os edifícios serem energeticamente mais eficientes, tem que se fazer um investimento passivo em infra-estruturas - no isolamento térmico, por exemplo -, mas há, depois, um conjunto de decisões que têm a ver com uma gestão activa da energia desses espaços e onde estes sistemas de informação têm um papel muito relevante. Por exemplo, tudo o que tenha a ver com a domótica, com a gestão dos consumos de iluminação, de aparelhos de ar condicionado e ventilação, etc.
Nos edifícios que já existem só há uma forma: procurar ser mais eficiente na utilização de energia. A iluminação e a climatização, por exemplo, são áreas onde há grandes consumos de energia, portanto, há que actuar aí: ser mais criterioso e utilizar soluções para diminuir a factura de energia, sem reduzir os níveis de conforto ou a qualidade ambiental.
Tem de fazer um esforço muito maior.
Não há propriamente erros. A questão é que grande parte das infra-estruturas do Estado são edifícios que têm dezenas ou, em alguns casos, centenas de anos, que têm doenças porque não foram concebidos com preocupações de gestão energética. Hoje, o que se faz é, de uma forma pouco inteligente, encontrar soluções para garantir os níveis de iluminação e para encontrar forma de melhorar a climatização ambiente em edifícios que foram construídos sem essas preocupações.
Se continuarmos a fazer este desenvolvimento sem nos preocuparmos com a gestão da infra-estrutura do sistema eléctrico, não conseguiremos fazer essa transição. O INESC - Porto realizou recentemente um estudo para o caso português, em que fizemos um levantamento daquilo que poderá ser o comportamento dos condutores dos veículos eléctricos no futuro, relativamente à sua utilização, ao seu padrão de mobilidade e à forma como iriam depois proceder ao carregamento das baterias. As pessoas vão movimentar-se durante o dia e, quando chegarem ao fim do dia, vão querer carregar as baterias e vão ligar-se à tomada quando terminam a sua actividade profissional. Tipicamente, este movimento de parqueamento dos veículos tem lugar entre as 18 e as 20 horas. Ora isto coincide com o período de maior consumo do sistema eléctrico português. Há uma coincidência deste consumo que já existe com um novo consumo que aparece e é muito significativo.
Provoca sobrecargas na infra-estrutura da rede e um aumento das necessidades de produção de electricidade nesses períodos. No estudo que fizemos, analisámos um cenário em que dez por cento dos veículos automóveis que existem em Portugal era transformado em veículo eléctrico. Dez por cento apenas! E isso traduzia-se num aumento do consumo às horas de ponta de qualquer coisa como 1200 MW, ou seja, cerca de 14 a 15 por cento de aumento. O sistema electroprodutor não está preparado para isto. Isto significa que o desenvolvimento deste conceito implica, desde já, fazer um esforço grande no sentido de promover o carregamento inteligente e coordenado das baterias, gerido de uma forma centralizada que permita transferir o carregamento dos veículos para os períodos nocturnos, com a garantia de que o condutor, na manhã seguinte, tenha a bateria do carro carregada.Isto tem de ser feito à custa do desenvolvimento de um sistema de informação, com uma componente muito forte de tecnologias de telecomunicações e com um conjunto de aplicações completamente novas para gerir a forma como o sistema eléctrico vai integrar estes novos consumidores. Desenvolvemos todo um sistema eléctrico virado para satisfazer as necessidades da procura, mas agora vamos ter um conjunto de clientes novos que têm uma característica: são extremamente flexíveis. Eu posso variar a taxa de carregamento das baterias e, com isto, garantir que, no final do período de carregamento, as baterias têm armazenada a quantidade de energia que é necessária para satisfazer as necessidades de mobilidade dos condutores de veículos eléctricos.
Exactamente. Isto implica todo um conjunto de conceitos e uma arquitectura de gestão e controlo que não existe, e que é preciso desenvolver, em conjugação com uma infra-estrutura de comunicações, um conjunto de interfaces inteligentes, que também não foram ainda concebidos. As infra-estruturas que estão a ser colocadas no terreno não têm isso. É certo que estamos a dar os primeiros passos e há uma vontade muito grande de promover e empurrar a mobilidade eléctrica, mas não nos podemos esquecer que temos que preparar essa mudança, em termos do funcionamento do sistema eléctrico como um todo. Senão, estamos a criar barreiras adicionais ao desenvolvimento do conceito.
Não necessariamente. Se continuarmos a investir no domínio das energias renováveis, podemos utilizá-las para satisfazer a necessidade da procura destes novos consumidores. Para ser eficiente na gestão global do sistema, eu preciso de transferir os consumos para os períodos nocturnos. E então posso recorrer a hidroelectricidade ou energia eólica.
Mas, mesmo recorrendo aos combustíveis fósseis, este processo é globalmente mais eficiente. Um veículo convencional com um motor de combustão interna tem rendimentos na ordem dos 20 por cento. Se, em vez disso, eu utilizar, por exemplo, uma central termoeléctrica de ciclo combinado a gás natural, mesmo contabilizando todas as perdas associadas ao transporte e distribuição da energia, bem como ao processo de carregamento da bateria e de utilização da energia nos motores eléctricos, obtenho um rendimento global na ordem dos 30 por cento. Portanto, mesmo utilizando combustíveis fósseis, eu consigo ser, globalmente, muito mais eficiente utilizando a mobilidade eléctrica, se o mercado for orientado para dar prioridade à utilização das centrais de ciclo combinado. Porque, essas sim, são realmente eficientes sob o ponto de vista da eficiência global do processo, inclusivamente no volume de emissões que são lançadas para a atmosfera.
Temos que procurar nichos tecnológicos de mercado, onde podemos ter intervenções sustentáveis e bem sucedidas. Para isso, temos que ter, por trás, uma forte capacidade de fazer investigação e desenvolvimento (I&D) e de transferir esse conhecimento para a indústria. Senão, nem sequer vale a pena fazermos investimentos. Sob o ponto de vista tecnológico, Portugal tem capacidade para trabalhar nestas áreas, porque tem um sistema científico e tecnológico que está preparado para lhe dar o apoio de que precisa e que soube aproveitar as políticas que os governos foram colocando no terreno para aumentar a capacidade de I&D nestes domínios. Esses nichos tecnológicos podem ser, por exemplo, tudo o que tem a ver com a gestão das redes e a gestão da mobilidade, onde somos capazes e o próprio tecido industrial tem tradição de trabalho nestes domínios. Desta fusão de capacidades e de competências, resulta a possibilidade de colocar no mercado soluções com valor acrescentado, com capacidade de diferenciação para satisfazer as necessidades do mercado internacional.
Água & Ambiente, 1 de Agosto, 2010
04 fevereiro 2011
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