Chega ao fim projeto europeu na área da segurança e controlo de fronteiras
Quatro anos e meio depois, o projeto europeu SUNNY chegou ao fim. Foi graças a 16 entidades internacionais que se desenvolveu uma rede de sensores inteligentes para serem transportados a bordo de aeronaves não tripuladas.
12 julho 2018
A função das aeronaves, denominadas UAVs (Unmanned Aerial Vehicles) ou RPAS (remote piloted aircraft systems), é a de patrulhar áreas fronteiriças que, no caso do SUNNY, são sobretudo relacionadas com o ambiente marítimo.
O INESC TEC teve um papel central no desenvolvimento do projeto e do conceito do sistema SUNNY através do Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS) e do Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM). A demonstração final do projeto decorreu em S. Jacinto, Aveiro.
Como surgiu o projeto?
A União Europeia, especialmente os países mediterrâneos, tem enfrentado uma série de desafios com a travessia ilegal de fronteiras. É, neste sentido, que surge o projeto SUNNY, pela necessidade de fortalecer a segurança fronteiriça para controlo de migrações e, sobretudo, no combate ao crime que ocorre nestas travessias. A Comissão Europeia financiou este projeto europeu em quase 10 milhões de euros.
A diferença entre o que existe e a nova solução
Atualmente, as aplicações que existem para este fim envolvem apenas uma aeronave isolada e com sensores que não são processados a bordo. Ao contrário, o SUNNY prevê o processamento de informação, a utilização de múltiplas aeronaves em conjunto no patrulhamento, um sistema de deteção, identificação e classificação automático, comunicações redundantes, ar-ar, ar-terra, um centro de comando e controlo único e aeronaves com voo autónomo com capacidade de integrar a perceção no loop de controlo. Quer isto tudo dizer que o SUNNY é capaz de alterar o comportamento sensorial, de processamento ou trajetória das aeronaves, de forma automática, sem intervenção humana e em função do fenómeno que está a ser observado.
A potencial comercialização do SUNNY
O sistema foi todo demonstrado em ambiente real com sucesso e os sensores e robôs desenvolvidos no âmbito do projeto estão já a ser comercializados pelos respetivos parceiros do projeto. No entanto, existem ainda uma série de constrangimentos à utilização de aeronaves não tripuladas na legislação de voo, o que faz com que ainda não seja possível utilizar um sistema tão complexo como o do SUNNY sem qualquer tipo de restrições.
“O sistema integrado do SUNNY ainda não é possível ser usado sem restrições, e aqui friso o ainda. Porém, os componentes de forma isolada já estão a ser comercializados. Dou o exemplo do sistema de imagem hiperespectral que foi produzido, que está a ser comercializado por uma empresa finlandesa ou o sistema de radar que está a cargo de uma empresa holandesa. No caso dos robôs, ou seja, as aeronaves, estão a ser comercializadas por uma empresa grega e há uma delas que pertence à Força Aérea Portuguesa”, explica Hugo Silva, investigador sénior do CRAS.
O papel do INESC TEC
O INESC TEC, através do CRAS e do CTM, foi a entidade responsável pelo desenvolvimento dos sistemas de processamento a bordo das aeronaves, da sua utilização, e integração nas aeronaves e de toda a informação enviada para terra para posterior análise na estação de comando e controlo do sistema. O Instituto também participou ativamente, e com um papel de relevo, no desenvolvimento da solução de comunicações wireless, que permite às aeronaves comunicarem entre si e com a estação de comando e controlo.
O objetivo passa agora por integrar estas soluções em ambiente industrial e empresarial nos meios da defesa e segurança, mas também em aplicações de âmbito civil, como sistemas para busca e salvamento e sistemas de monitorização ambiental.
Qual o impacto do projeto na vida dos portugueses?
No que diz respeito ao impacto que o SUNNY vai ter na vida dos cidadãos portugueses, Hugo Silva responde “projetos como o SUNNY não podem ser vistos com foco nos impactos no curto prazo, mas sim no longo prazo. O sistema que desenvolvemos é demasiado complexo do ponto de vista operacional para uma utilização imediata e, por isso, existe um caminho a percorrer em algumas das vertentes para que o sistema, como um todo, possa ser utilizado. No entanto, grande parte do trabalho desenvolvido já está a funcionar em ambiente operacional e o que não está vai passar a estar brevemente”.
Pensando no caso português, a tecnologia desenvolvida pode ser aplicada para resolver outros problemas reais, como por exemplo os incêndios em Portugal, onde a utilização de drones para aplicações ambientais já está a ser estudada. É esse tipo de projetos que os investigadores do INESC TEC estão agora a tentar desenvolver.
Os participantes no projeto
Coordenado pela BMT Group (Reino Unido), o projeto SUNNY contou com a participação de três parceiros portugueses – INESC TEC e Ministério da Defesa Nacional (CINAV e FAP), dos holandeses da MetaSensing, dos belgas da XENICS, da TECNALIA e da TTI Norte (Espanha), dos gregos da Technical University of Crete, do KEMEA, do National center for scientific research “Demokritos” e Altus LSA Commercial and Manufacturing, da SPECIM (Finlândia), Vitrociset, Consorzio Nazionale Interuniversitario per le telecomunicazioni e Leonardo – societa per azioni, e da Marlo (Noruega).
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC.