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Artigo

Crescimento da instituição e adesão de novos grupos ditam mudança no INESC Porto LA

Num ano notoriamente marcado pela crise económica, o INESC Porto faz crescer o seu orçamento de 10 para 12,5 milhões de Euros. Ao contrário do que se poderia supor, este é todavia um dos orçamentos mais conservadores de sempre: cerca de 90% dos proveitos previstos estão contratualmente garantidos desde o início do ano. Com os pés bem assentes na terra, o presidente do INESC Porto admite que, apesar de o INESC Porto ter praticamente duplicado de dimensão nos últimos cinco anos, “não deve, nem pode criar qualquer obsessão por records”. José Manuel Mendonça apela ao empenho de todos os colaboradores para se conseguir manter a instituição num crescimento sustentável, reconhecendo que garantir o elevado nível de qualidade enquanto se cresce tão rapidamente é um enorme desafio.

10 fevereiro 2011

1. “Três necessidades, três virtudes e quatro vias” pautam o projeto de crescimento sustentado do INESC Porto LA (Laboratório Associado) em 2011. Em que consiste esta visão, e de que forma vai contribuir para a conquista dos objetivos do INESC Porto LA ao longo deste ano?
Esta frase poderá parecer o título de uma parábola nascida da sabedoria oriental, mas o propósito é arrumar de forma percetível os elementos que irão determinar a nossa evolução em 2011. Ao escolher esta organização para a explicitação desses elementos, pretendemos a um tempo partilhar a nossa visão com todos os stakeholders do INESC Porto LA e ainda comprometermo-nos com uma atuação coerente com uma estratégia clara. Os detalhes estão todos no Plano e Orçamento para 2011, disponível na intranet, documento que não se limita a propor, atividades, projetos e metas em termos científicos, dos recursos humanos e na vertente económico-financeira. O Plano é um instrumento que explicita a estratégia, define objetivos e suporta a gestão e o controlo, sendo portanto fundamental para a condução da instituição.

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2. Qual destas linhas de orientação irá colocar mais desafios ao INESC Porto LA?
Apesar das fortes condicionantes externas – crise económica, novo modelo fundacional da UP, regras do QREN, renovação do contrato de LA, etc. – na minha opinião o grande desafio é do foro interno: repensar a estrutura e redefinir o modelo de gestão, sem esquecer diversas medidas de “melhoria contínua”, e abrir caminho para a emergência dos futuros responsáveis e líderes da instituição.

O modelo de organização e gestão do INESC Porto resultou de um aperfeiçoamento contextualizado do modelo INESC dos anos 80 e 90 e é um dos suportes do sucesso da instituição. O (enorme) desafio agora é fazê-lo evoluir, mantendo o DNA original e consolidando os seus fatores diferenciadores, para poder responder aos desafios colocados: pelo crescimento da instituição, pelo novo modelo do LA e adesão de novos grupos, pela internacionalização, pelos programas de parceria internacional com o MIT, CMU e UTAustin, etc..

O encontro do Luso e a discussão nele promovida em torno de cinco temas da maior importância para a instituição permitiram envolver os colaboradores do INESC Porto numa reflexão estratégica cujo desfecho nos irá certamente ajudar neste desafio. Numa outra perspetiva, o Scientific Advisory Board, com a sua visão externa, internacional, independente e avaliadora, trará certamente uma outra contribuição de enorme relevo. Finalmente, a perspetiva e o empenhamento dos associados, para os quais o INESC Porto é instrumento estratégico de atuação, completa o leque de contributos de que dispomos para enfrentar este desafio maior.

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3. Um dos objetivos enunciados neste Plano para 2011 passa por diversificar as fontes de rendimento e de financiamento, nomeadamente através do reforço da vertente de serviços diretos de I&D e da diversificação de mercados. A Direção do INESC Porto (DIP) vê nesta diversificação um caminho para assegurar a sustentabilidade económica e financeira do INESC Porto?             
O INESC Porto desenvolve, organizadas em projetos, as diferentes atividades de uma cadeia de valor: investigação, desenvolvimento de tecnologia e transferência e valorização de conhecimento/tecnologia. A montante nesta cadeia de valor produz-se ciência e formam-se recursos humanos altamente qualificados, bens relevantes de interesse público, e por isso o financiamento dessas atividades é suportado sobretudo através de investimento público. A jusante há um forte interesse das empresas para se apropriar, de forma exclusiva ou não, do novo conhecimento e da tecnologia que, para elas, poderá significar diferenciação de produtos, processos ou serviços e competitividade acrescida no mercado.

Dependendo da maturidade da tecnologia ou do conhecimento transferidos e da exclusividade da apropriação, o financiamento dessas atividades – projetos de I&D cooperativa, I&D por contracto, consultoria especializada ou simples licenciamento – é feito por fundos públicos e privados ou exclusivamente através de fundos privados.

No modelo de financiamento do INESC Porto aparecem, pois, a montante a FCT, financiando projetos de I&D de cariz mais fundamental, e a jusante as empresas, contratando trabalho de I&D aplicado, em exclusivo e numa fase pré-competitiva. Os projetos em consórcio financiados pelo QREN ou pelo 7.º PQ da EU, nos quais os fundos públicos partilham o risco do investimento das empresas no desenvolvimento de tecnologia, permitem ganhar massa crítica, desenvolver e testar tecnologia, internacionalizar e progressivamente demonstrar a relevância das linhas de investigação, contribuindo para ultrapassar o denominado “vale da morte”, o fosso inicial entre ciência fundamental e aplicação tecnológica relevante.

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Como só a produção científica de qualidade permite gerar potencial de valorização, um modelo de financiamento globalmente equilibrado é condição imperativa para o posicionamento singular do INESC Porto - fazer I&D socialmente relevante e com potencial impacto económico.

Este equilíbrio não é fácil, sobretudo tendo em conta a instabilidade decorrente dos ciclos políticos e económicos, que determinam os instrumentos de financiamento público nacionais e europeus e a disponibilidade/necessidade das empresas para investir em I&D. Mas, não sendo fácil, este é um equilíbrio imprescindível para a sustentabilidade da instituição e para a eficiência e eficácia na utilização dos recursos que consegue obter para cumprir a sua missão.

Na atual fase de crescimento da instituição INESC Porto e do Laboratório Associado, crescimento esse em contraciclo desde 2008, é imperioso manter o equilíbrio económico-financeiro e, se possível, diminuir a dependência dos financiamentos nacionais através do aumento das receitas obtidas através de contratos diretos com empresas e do reforço das fontes de financiamento internacionais: projetos europeus e, sobretudo, contratos de I&D e consultoria com empresas internacionais. Para além do equilíbrio financeiro, isso significará uma (ainda maior) relevância empresarial do nosso trabalho e, a par com o reconhecimento internacional em muitas áreas científicas, a demonstração que, em diversas áreas, somos também capazes de exportar know-how e tecnologia no mercado internacional.

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4. Em 2010 o Orçamento atingiu a marca dos 10 milhões de Euros. Vamos voltar a bater um record em 2011 e contrariar as estatísticas? Quais são as previsões e qual a sua avaliação do Orçamento para 2011? E um Orçamento de 12,5 milhões de Euros, em ano de crise, não é um risco excessivo?
O INESC Porto praticamente duplicou de dimensão nos últimos cinco anos, mas não deve, não pode haver qualquer obsessão por records. O crescimento resulta da estratégia seguida e claramente explicitada e é facilmente explicável e justificável: aumento de atividade em diversas áreas em que as nossas competências se afirmaram claramente; atração de investigadores e grupos de I&D de qualidade pela nossa missão, pelo nosso posicionamento e pelo nosso modelo de organização da investigação; market-pull muito significativo em diversas áreas; etc..

O que é importante e crítico é que este crescimento seja sustentável e corresponda a um alinhamento estratégico de atividades, consolidando massas críticas que permitam responder melhor aos múltiplos desafios que se nos colocaram: participação nos diferentes Programas de Parceria Internacional com o MIT, a CMU e a UTAustin; fortíssimo envolvimento nos Pólos e Clusters de Competitividade e Tecnologia; lançamento do INESC P&D no Brasil em parceria com universidades brasileiras de referência; lançamento de 10 empresas spin-off valorizando conhecimento e tecnologia que desenvolvemos em projetos de I&D; etc.

Sabendo que o aumento de dimensão levaria, inevitavelmente a um aumento dos riscos nas vertentes económica e financeira, de produção científica, de controlo dos projetos, de gestão de equipas, etc., foram afinados os mecanismos de informação e gestão e melhorados os procedimentos de orçamentação e controlo. É preciso ter presente que o INESC Porto tem a dimensão de uma média empresa e que os “acionistas” dessa empresa, os nossos associados, têm o direito de exigir uma gestão exemplar e “sem desculpas”.

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Por tudo isto - e ainda preventivamente num ano de incerteza acrescida - o orçamento de 2011 foi elaborado com (ainda) maior rigor e (ainda) mais cuidada avaliação do risco, sendo que cerca de 90% dos proveitos previstos estão contratualmente garantidos desde o início do ano.

5. O grupo ROBIS, que integrou o INESC Porto em 2009, cresce para se tornar uma Unidade, a qual vai ser composta por investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Qual o balanço que faz da integração do ROBIS no INESC Porto?
A integração do ROBIS foi um notável caso de sucesso, em diversas vertentes: projetos, produção científica, contratos com empresas, etc. Os méritos são devidos a pessoas de um lado (grupo acolhido) e de outro (instituição de acolhimento) que foram capazes, rápidos e seguros na construção de projetos muitíssimo interessantes e no estabelecimento de pontes de cooperação entre o ROBIS e outras unidades e grupos do LA, alinhando estratégias e colocando sempre à frente os interesses conjuntos e o espírito de equipa. É de realçar, porém, que tal não teria sido possível se não existisse desde início uma elevada confiança pessoal entre os responsáveis de um e outro lado, confiança esta desenvolvida na FEUP em tarefas docentes, ao longo de muitos anos.

O reconhecido sucesso e a confiança adquirida encorajam-nos agora a fazer crescer o ROBIS através da fusão com o grupo do Laboratório de Sistemas Autónomos (LAS) do ISEP, com o qual existe uma muito grande afinidade, quer em termos de áreas científicas quer em competências de engenharia, transformando-se o ROBIS numa Unidade do INESC Porto. O nascimento desta Unidade tem sido apadrinhado no ISEP ao mais alto nível. Promissor é o facto de, mesmo sem necessidade de formalização desta ligação, haver já projetos comuns em curso, nomeadamente no Brasil. Estando este processo ainda no início certamente vai haver dificuldades a vencer, mas a confiança é elevada. Estes processos têm de ser acompanhados e geridos, trazendo vantagens e benefícios para os investigadores e para as instituições, neste caso e para além do INESC Porto, a FEUP e o ISEP.

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6. Está também prevista para 2011 a entrada de um novo grupo para o Laboratório Associado, o CISTER, que atualmente está integrado no ISEP. Como surgiu esta oportunidade e quais as mais-valias que pode trazer para o INESC Porto?
Em resultado da política do MCTES de combater a fragmentação dos grupos e unidades de I&D e de estimular a excelência científica através da criação de massas críticas em áreas do saber de elevada importância para o país, emergiu e foi-se consolidando durante a década 2000-2010 uma nova realidade: a rede dos Laboratórios Associados (LAs).

As vantagens oferecidas pelo modelo dos LAs aos investigadores, às instituições do ensino superior que os acolhem e à FCT e ao MCTES foram-se tornando óbvias, sendo natural que fossem surgindo pedidos de adesão a LAs por parte de investigadores individuais e Unidades de I&D reconhecidas e avaliadas pela FCT. As adesões do LIAAD, CRACS e UGEI enquadram-se nesta perspetiva e é também nessa perspetiva que se enquadram as adesões do CISTER (Unidade de I&D reconhecida pela FCT e avaliada com a classificação de Excelente) e do HASLab, grupo da Universidade do Minho cujo estatuto será no imediato, pelo facto de não ser uma Unidade de I&D avaliada pela FCT, o de um parceria privilegiada.

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7. Com o crescimento do ROBIS e com a entrada do CISTER, o INESC Porto LA vai passar a integrar mais de 500 investigadores, um número que ultrapassa o de muitas Universidades. Um número tão expressivo deixa-o orgulhoso ou, pelo contrário, receia que este crescimento exponencial dite uma inevitável perda de qualidade?
Em primeiro lugar, repito que não há nenhuma obsessão com o crescimento do INESC Porto e do LA. E o orgulho será apenas a satisfação pelo dever cumprido. É o mesmo orgulho que devem sentir todos os colaboradores do INESC Porto e do LA, porque significa que há muitos investigadores, bolseiros, etc. que partilham os nossos ideais, que acham relevantes a missão e o posicionamento da instituição, que se sentem confortáveis com o seu modelo de governação, que se identificam com o que cá se faz e que contribuem no dia a dia com o seu empenho, a sua criatividade, o seu talento e a sua capacidade pessoal para o sucesso dos projetos, dos grupos e unidades.

Manter elevados níveis de qualidade enquanto se cresce rapidamente é um enorme desafio, para ser muito sincero. É mais fácil manter um pequeno grupo excelente: basta apertar os critérios de acesso. Mas uma elite muito diminuta e totalmente homogénea dificilmente é capaz de produzir resultados com impacto, pelo menos segundo o nosso conceito: fazer investigação socialmente relevante e com potencial de valorização económica. Para criar a massa crítica suficiente é necessário crescer, reforçando competências críticas em áreas científicas nucleares mas também associando à investigação capacidades de desenvolvimento de tecnologia e de engenharia. Crescer para o dobro numa dada área, procurando relevância e impacto, não é ter o dobro dos investigadores dedicados a essa área científica. É consolidar um grupo de investigadores doutorados, mas formando equipa com pessoal contratado com funções de engenharia, gestão de projeto, etc., e com bolseiros em formação através de atividades de investigação.

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8. Gostaríamos de o convidar a deixar uma mensagem de Ano Novo a todos os inesquianos, nomeadamente sobre os desafios que 2011 nos irá colocar e as expectativas que a instituição tem para os seus colaboradores.
Com o empenhamento de todos, e só com o empenhamento de todos, será possível ultrapassar as dificuldades que vão aparecer pelo caminho e dar passos claros para alcançar os objetivos a que nos propusemos: construir uma instituição sustentável, baseada num modelo inovador de organização das atividades de I&D e de valorização do conhecimento, que seja capaz de dar um contributo efetivo para a transformação do tecido económico e social do país e para alavancar os seus recursos e competências, questão definitivamente fundamental nos tempos que correm.

Se conseguirmos isso, aí sim, haverá razões para nos sentirmos orgulhosos, pois fomos capazes de devolver à sociedade, com juros acrescidos, tudo aquilo que ela investiu em nós.

Fonte: BIP Janeiro 2011