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Artigo

Fora de Série do BIP de maio - Jaime Cardoso (UTM)

Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade.

31 maio 2013

Jaime Cardoso

1. O que significa para si esta distinção como “Fora de Série” do Boletim do INESC TEC (BIP)?

Inicialmente fiquei surpreso, pois sempre associei esta distinção a uma forma de motivar e reconhecer o trabalho meritório dos mais jovens no INESC TEC. E, por isso, senti-me jovem outra vez! Mas, de facto julgo, que a distinção é principalmente um reconhecimento do percurso muito positivo da jovem área de Processamento de Informação e Reconhecimento de Padrões (IPPR) na Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM), que tenho a responsabilidade de representar.

2. Como surgiu a sua ligação ao INESC TEC?

Já por cá ando desde 1999 e a ligação construiu-se de uma forma muito natural e gradual. Realizei o projeto de fim de curso (Licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores) orientado por Professores ligados com INESC Porto. Embora o trabalho tenha sido realizado nas instalações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), fui conhecendo o INESC Porto e a sua atividade. Nessa altura abriu uma posição de investigação na UTM (para o “grupo da televisão digital”) à qual concorri e para a qual fui selecionado. A partir daí, nunca mais quis largar isto! :)

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3. Como tem sido a experiência de liderar a equipa de investigação "Visual Computing and Machine Intelligence"? Sente-se bem neste papel de liderança?

Nesta fase da minha vida, a área da minha atividade profissional que me dá mais prazer é, sem dúvida, o trabalho de investigação que realizo com o meu grupo, enquadrado no VCMI. Julgo que o percurso do VCMI se “confunde”, em parte, com o próprio percurso da área “Information Processing and Pattern Recognition”. Tem sido muito gratificante acompanhar o “crescimento” (e, julgo eu, contribuir para esse crescimento) de vários elementos que passaram ou permanecem no grupo. Eu estou longe de ser um líder nato, pelo que tenho bastantes dificuldades na gestão de recursos humanos. Mas tento ir aprendendo e melhorando...

4. A equipa de investigação liderada pelo Jaime é muito ativa em projetos ligados à área da saúde. Qual pode ser, no seu entender, o papel da inteligência computacional no tratamento/prevenção de doenças?

A inteligência artificial (AI) tem, sem dúvida, desempenhado e vai continuar a desempenhar um papel central em medicina. As subáreas de AI que mais intersetam o meu trabalho, a análise de imagem/vídeo e machine learning, têm permitido avanços significativos na automatização de tarefas, na extração de conhecimento de base de dados (novos compostos promissores para uma dada tarefa, relações causais entre entidades, etc.), no projeto de sistemas de apoio ao diagnóstico, entre outros. Nós trabalhamos essencialmente no desenvolvimento de algoritmos que permitem compreender de forma automática o conteúdo de um dado exame imagiológico para automatizar uma série de decisões e/ou auxiliar o diagnóstico.

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5. O Jaime é autor de 36 trabalhos em revista internacionais, de um livro editado, de três capítulos em livros e de 55 trabalhos em conferências internacionais. Ao fim de 15 anos, o que motiva um investigador do seu nível a continuar a trabalhar na UTM/INESC TEC?

O difícil é começar, entrar no ‘jogo’. Depois não se quer parar de jogar! Aliás, quando não estou a aguardar o resultado de nenhuma submissão de artigo ou projeto, falta-me qualquer coisa… Quando se gosta do que se faz é mais fácil não nos acomodarmos e continuar a procurar o desafio seguinte.

6. O Jaime tem ainda uma intensa atividade como Professor universitário, orientando/coorientando dois alunos de Pós-Doc, nove alunos de doutoramento e cinco alunos de mestrado. De que forma é que o trabalho que desenvolve no INESC TEC/UTM enriquece a sua atividade enquanto docente do Ensino Superior?

Apesar de os números parecerem elevados, é importante realçar que, sendo os temas das teses de mestrado enquadrados nos projetos de doutoramento, os alunos de doutoramento colaboram ativamente na orientação de alunos de mestrado (com um benefício claro para ambos) e os alunos de Pós-Doc colaboram na orientação dos alunos de doutoramento.
Julgo que o trabalho de investigação é fundamental para não estagnarmos no ensino, para termos um domínio sólido dos assuntos, para sermos capazes de atualizar os conteúdos programáticos de acordo com as tendências e necessidades atuais. Não me vejo a ensinar sem investigar.

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7. Para além da investigação e do ensino, o Jaime também tem estado envolvido na organização de conferências internacionais. Para um investigador, qual é a importância de participar na organização de conferências internacionais atualmente?

Por um lado, julgo que temos essa obrigação perante a comunidade científica. Se gostamos de participar em eventos científicos e se concordamos que estes tipos de eventos são fundamentais, então temos o dever de contribuir, organizando. Apesar da enorme carga de trabalho e responsabilidade que a organização acarreta, temos também a vantagem da visibilidade acrescida que a organização deste tipo de eventos implica, bem como dos contactos e das colaborações que potencia.

8. Que conselhos daria a um investigador em início de carreira?

“Não há coisa tão fácil como dar conselho, nem mais difícil do que sabê-lo dar.” Mas, tentando, salientava dois aspetos. Tentar trabalhar menos para o ‘número’ e mais para o ‘impacto’ ou qualidade. Somos todos avaliados pelo que produzimos e temos a tendência de trabalhar para maximizar a métrica de avaliação (e não tanto a qualidade do trabalho que fazemos). Apesar de ser importante o pragmatismo (e perceber que uma melhor avaliação nos permite ter um melhor CV, logo vamos estar em melhores condições para obter financiamento para novos projetos e mais investigação), devemos evitar ser ‘dominados’ pelos números.

Por outro lado, devemos estar conscientes de que o horário para fazer investigação não é rígido, das “9:00  às 17:00”. Devemos estar disponíveis para um horário flexível: as ideias não têm horários e, por vezes, é preciso ficar mais um pouco para testar aquela que chegou sem avisar. Quantas vezes a solução aparece quando estamos a tomar duche ou a tomar um café com os amigos (desde que estejamos ‘recetivos’). E quando chega o deadline para submeter o artigo é preciso apertar…

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9. Imagina-se a tentar uma experiência na indústria?

Até agora não me senti tentado por nenhum dos convites nem pelas oportunidades que foram surgindo.

10. Terminaremos este breve questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita pela coordenação da unidade a que pertence, a UTM?

 O Prof. Jaime Cardoso tem vindo a desenvolver um notável trabalho de orientação científica do grupo da UTM que investiga aspetos relacionados com a computação de informação visual, com obtenção de resultados científicos relevantes e desenvolvimento de protótipos de grande utilidade. O seu grupo de investigação realizou recentemente a 100ª reunião de trabalho, o que também demonstra o empenho e a perseverança do Prof. Jaime Cardoso em criar um grupo coeso, de elevada qualidade e que persegue objetivos de investigação bem definido.

Começo por agradecer o reconhecimento público do trabalho do grupo e realço o aspeto mencionado do equilíbrio entre a parte científica e a parte de transferência de tecnologia para a indústria. Temos elementos no grupo vocacionados para cada um destes aspetos, ambos fundamentais e que se potenciam mutuamente. Mais recentemente (no tempo de vida do grupo) alguns dos elementos têm feito um trabalho muito relevante de angariação de projetos em colaboração com a indústria, o que tem complementado de forma muito eficaz e tem permitido capitalizar o trabalho mais científico que fomos desenvolvendo desde a criação do grupo.

BIP de maio 2013