INESC Porto com reforço do ISEP prepara exportação de tecnologia robótica
O INESC Porto e o ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto) viram ser formalizada, no dia 16 de fevereiro, a fusão entre os seus grupos de robótica – Grupo de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) e Laboratório de Sistemas Autónomos (LSA), respetivamente.
02 março 2011
Nova Unidade de Robótica de olhos postos nos mercados em forte expansão
A nova Unidade de Robótica
A fusão entre os grupos de robótica do INESC Porto e do ISEP, que ficou agora formalizada, tem como objetivo otimizar recursos, incrementar sinergias e fortalecer a capacidade científica e tecnológica de ambas as instituições. Esta é a estratégia para se conseguir chegar a mercados em forte expansão através da exportação de tecnologia de ponta na área da robótica. Numa iniciativa que partiu dos próprios investigadores dos dois grupos, a nova Unidade de Robótica passará a contar com cerca de 50 colaboradores que se unem para obter mais massa crítica e assim potenciar soluções inovadoras para comercialização nas áreas da robótica e inteligência artificial.
A consagração pública desta estratégia teve lugar no evento organizado no ISEP, na manhã do dia 16 de fevereiro: a assinatura de um memorando de entendimento INESC Porto/ISEP, uma Mostra Tecnológica sobre as realizações da robótica nos grupos que agora se fundem e ainda, complementarmente, a assinatura de Actas de Adesão de vários grupos ao Laboratório Associado, tema que será objeto de destaque independente nesta edição do BIP.
Uma ligação com mais de duas décadas
Pontos altos da cerimónia, os discursos de José Manuel Mendonça, presidente do INESC Porto, e de João Rocha, presidente do ISEP, recordaram que a ligação entre as duas instituições é antiga e que muitos docentes do ISEP são quase desde a primeira hora investigadores do INESC no Porto, tendo contribuído ao longo de 25 anos, com mérito e sacrifício, para a produção de artigos, teses, realização de projetos nacionais e internacionais. Porém, ambos os oradores reconheceram que, sendo o ISEP associado formal do INESC Porto desde 2006, à colaboração se dava agora um novo rumo institucionalizado - e confirmaram publicamente a sua visão comum de que a importância de sinergias como esta, para promover a transferência de ciência e tecnologia de excelência portuguesas, nomeadamente através da exportação, parece ser inegável, mais ainda no contexto da atual crise económica.
O evento contou igualmente com a presença de outros ilustres convidados, dos quais se destaca António Nogueira Leite, presidente da Oceano XXI – Associação para o Conhecimento e Economia do Mar, com um discurso motivador. Uma presença que não foi um acaso, não fosse a Economia do Mar o enfoque do evento que apresentou uma exposição de equipamentos robóticos ligados à monitorização de ambientes aquáticos, entre outros robôs terrestres.
Ganhar dimensão internacional
A partir de agora, com a nova Unidade de Robótica do INESC Porto, vai ser possível aumentar e melhorar as atividades de transferência e de comercialização de tecnologia portuguesa. De acordo com António Paulo Moreira, investigador do INESC Porto e um dos coordenadores da nova Unidade, função que partilha com Eduardo Silva, o objetivo da fusão destes dois grupos é claro: “ganhar uma dimensão internacional” através de exportações para mercados em forte expansão, como é o caso do Brasil. Como exemplo destaca-se o MARES, um robô submarino de monitorização, e o TriMARES, uma continuação melhorada do MARES.
A exportação de tecnologia na área da robótica para mercados como o do Brasil é um dos eixos da estratégia da que é agora a maior unidade de robótica do Norte do país. De acordo com o presidente do ISEP, João Rocha, este Memorando de Entendimento “resulta da constatação de que é possível estabelecer sinergias entre atividades similares, criando assim grupos com massa crítica suficiente para poderem concorrer, quer do ponto de vista científico, quer da criação de valor, através da transferência da tecnologia para o mercado empresarial”.
E assim nasce uma estrela…
Para além da assinatura do Memorando de Entendimento, o evento incluiu ainda uma exposição de equipamento robótico, cuja ‘estrela’ foi o TriMARES, apresentado pela primeira vez à comunicação social. Este equipamento de monitorização é capaz de inspecionar estruturas de barragens e o assoreamento das bacias, com grau de precisão na ordem dos centímetros e em tempo real. Já no próximo mês, o robô estará pronto para partir para o Brasil, onde irá ser usado para examinar o fundo da albufeira do Lajeado, recolher dados sobre a qualidade das águas e verificar as condições do paredão da barragem, num projeto em cooperação com a Universidade Federal de Juiz de Fora, e contratado pela empresa concessionária do aproveitamento. Com esta informação, é possível detetar antecipadamente anomalias e analisar do nível de risco de barragens com maior precisão e menos custos do que os processos tradicionais. O equipamento MARES é já usado pelo Grupo Águas de Portugal na monitorização da qualidade das águas costeiras portuguesas; o uso do TriMARES constituirá o primeiro projeto conjunto de consultoria internacional.
Mas as aplicações do trabalho a ser desenvolvido pela nova Unidade de Robótica não ficarão confinadas à Economia do Mar. De acordo com António Paulo Moreira, esta área tem um desenvolvimento muito acelerado e as aplicações práticas vão desde a inspeção ambiental e vigilância, passando pela indústria. De facto, "a robótica industrial está a ficar menos burra", afirma, o que quer dizer que serão desenvolvidas soluções mais adaptadas a situações específicas das indústrias, com os robôs a irem além da tarefa repetitiva. Esta nova parceria vem também promover um maior interface entre as indústrias e o saber, uma opinião partilhada por Eduardo Silva que reforça que "cada vez mais a indústria vai precisar de aplicações robóticas".
“Um desafio de todos nós”
De acordo com o presidente do ISEP, tanto o INESC Porto como esta Escola têm desenvolvido atividades complementares na área da robótica que serão potenciadas por um grupo agora muito maior e com uma capacidade significativamente superior. E é este o desafio: fazer mais e melhor; continuar a promover a ciência e tecnologia portuguesas a nível nacional e, acima de tudo, a nível internacional. Todos concordam que esta é uma aposta forte na excelência.
E foi precisamente nesta ideia que António Nogueira Leite, presidente da Oceano XXI, centrou o seu discurso. “Com a criação de mais massa crítica, com a melhoria das nossas capacidades científicas e tecnológicas, estamos a fazer um investimento no futuro”, reflecte o professor. É a isto que se propõe esta nova Unidade. Mas o maior desafio, o “desafio de todos nós”, tal como afirmou António Nogueira Leite, “é transformar estes investimentos em resultados”. E as bases estão já lançadas.
Em discurso direto
A colaboração do INESC Porto com o ISEP não é recente. De facto, o INESC Porto acolhe desde há vários anos investigadores que são docentes no ISEP. O BIP quis saber a opinião de alguns deles sobre esta fusão.
Ana Viana
“Para mim sempre foi claro que uma colaboração estreita entre o INESC Porto e o ISEP traz benefícios para ambas as partes. Aliás, se olharmos para um passado de mais de 20 anos de cooperação, diria que esses benefícios podem ser facilmente identificados. Surgiu agora a oportunidade de a colaboração entre as duas instituições abranger um número maior de pessoas. Não tenho dúvida que, tal como com as colaborações anteriores, esta será também uma aposta vencedora”. (colaboradora da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção – UESP).
Miguel Leitão
“Sou docente do ISEP desde 1986 e investigador do INESC no Porto desde 1989. No início, esta dupla situação era um caso raro. Acredito que contribuí com o meu exemplo para que, no início da década de 90, vários colegas investigadores do INESC optassem também por ingressar nos quadros do ISEP. Desde então, esta captação de investigadores do INESC Porto para docentes do ISEP não tem parado. O número de colegas a manter o duplo estatuto teve o seu auge no fim da década de 90 e tem-se mantido nos últimos anos.
É com muita satisfação que constato agora que a opção de realizar trabalhos de investigação de forma enquadrada com um grande parceiro como é o INESC Porto, passou também ser a opção escolhida por alguns dos mais activos colegas do ISEP. Para o arranque deste novo sentido de migração, contribuiu sem dúvida o reconhecimento da qualidade do trabalho desenvolvido pelo núcleo duro de docentes do ISEP que têm enquadrado trabalhos de investigação no INESC Porto. Dou as boas-vindas aos novos/antigos colegas e espero que mantenham a qualidade do seu trabalho”. (Colaborador na Unidade de Sistemas de Informação e Computação Gráfica - USIG)
Paula Viana
“O reforço da ligação com o ISEP deixa-me particularmente satisfeita pelo facto de estar há muitos anos ligada a ambas as Instituições. Tal como referido nas intervenções dos Presidentes do ISEP e do INESC Porto, o primeiro passo para este entendimento começou há mais de 20 anos e foi sendo feito de pequenos passos, que envolveram pessoas das actuais e passadas Direcções, e que culminaram agora com a assinatura deste memorando de entendimento. Unidos fazemos a força!” (colaboradora da Unidade de Telecomunicações e Multimédia – UTM)
Miguel Losa
“Entre muitos outros aspectos importantes nesta colaboração entre as duas instituições, gostava de salientar a importância que tem tido a integração dos nossos alunos, através dos estágios curriculares, nas actividades de investigação aplicada realizadas no INESC Porto. Para os nossos alunos é com certeza muito enriquecedor o contacto com metodologias e dinâmicas diferentes e com outras áreas do saber no domínio dos Sistemas Informáticos, como por exemplo os Sistemas de Informação Geográfica.” (Colaborador na USIG)
Fonte: BIP Março 2011