INESC TEC participa em projeto que vai modificar o consumo do audiovisual em Portugal
Partindo do conceito de “media imersivos”, o projeto ImTV - OnDemand Immersive-TV for Communities of Media Producers and Consumers – recolheu informação sobre o consumo audiovisual em Portugal, produziu uma série de ferramentas com potencial para conferir ao telespetador um papel mais ativo, mas também gerou o debate sobre o serviço público de media.
28 março 2014
Protótipos desenvolvidos intensificam interação entre espetador e conteúdo
Enquanto parceira, a contribuição da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM) do INESC TEC no projeto materializou-se de diversas formas, entre as quais o desenvolvimento de protótipos que permitem uma interação transparente entre espectadores, conteúdos e produtores.
Projeto pretende melhorar a experiência de visualização dos utilizadores
Iniciado em julho de 2010, o projeto ImTV propunha desenvolver investigação com vista a definir novos modelos para a distribuição e consumo legal de televisão e conteúdos audiovisuais. A ele associaram-se diversas entidades, desde institutos de investigação a parceiros do panorama audiovisual. O contributo do INESC TEC prestou-se essencialmente com o desenvolvimento de dois protótipos: um sistema de anotação colaborativo de conteúdos de vídeo e um outro de espaços multivista personalizados.
No primeiro caso, e usando os conceitos de crowdsourcing e jogos com propósito, o sistema reúne as descrições dos conteúdos do utilizador sobre um arquivo e implementa mecanismos de validação da informação e "rewarding" (prémios) aos jogadores que fazem contribuições consideradas válidas. O segundo protótipo gera espaços multivista personalizados através da apresentação de conteúdos de forma adaptativa e de acordo com o foco de atenção do utilizador.
Estes dois modelos “exploram o conceito de imersão sobre dois pontos de vista: o utilizador participa de forma ativa na criação de conteúdos; e o utilizador tem acesso a conteúdos 3D de uma forma personalizada e adaptativa”, explica Paula Viana, coordenadora do projeto na UTM. Ao mesmo tempo, a tecnologia vai ao encontro das necessidades do público mais jovem, introduzindo aspetos como a participação, personalização e interação, criando ambientes mais atrativos.
Estas características refletem, assim, uma mudança no paradigma de consumo de conteúdos audiovisuais: o espetador deixa de ter um papel passivo e passa a interagir com o produtor e com outros utilizadores, contribuindo ativamente com informação.
UTM organiza workshop e conferência sobre media
Para além dos protótipos, a equipa do INESC TEC trabalhou também diversos aspetos relacionados com a recomendação de conteúdos de forma a garantir o acesso mais eficiente, personalizado e adaptado ao contexto de utilização. “Estes resultados deverão também contribuir para um aumento da satisfação do utilizador e consequentemente para a sua fidelização ao serviço”, adianta a investigadora da UTM que juntamente com Teresa Andrade, Artur Pimenta Alves, Márcio Soares, Tiago Costa e José Pedro Pinto trabalharam no projeto.
Integrado no projeto esteve ainda o workshop “Immersive Media Experiences 2013”, que decorreu em Barcelona no âmbito da conferência internacional “ACM Multimedia 2013” (uma das maiores na área) e reuniu trabalhos científicos sobre media imersivos. Dado o sucesso desta sessão, uma 2ª edição está já prevista na ACM MM 2014, desta vez em Orlando, Estados Unidos.
A Rádio e Televisão de Portugal (RTP) aliou-se também ao projeto, debatendo na conferência “Public Service Media in a Small Country with a Global Culture”, organizada pelo INESC TEC, questões sobre o serviço público de media e novas dimensões do operador público.
A contribuição INESC TEC no ImTV ficou, além disso, assinalada em diversos artigos científicos em revistas internacionais especializadas e na edição de um número especial da revista "Multimedia Tools and Applications".
Projeto melhora experiência de visualização dos utilizadores - tvinterativa
No âmbito do projeto, a Universidade do Texas, em Austin (também parceira), realizou ainda um estudo comparativo denominado “Immersive television and the on-demand audience”, sobre as formas de consumo de conteúdos audiovisuais, nomeadamente quanto à tecnologia e fontes de informação utilizadas, hábitos dos espetadores, entre outros. O objetivo foi assinalar as novas dinâmicas na área dos media de entretenimento, atendendo especificamente à forma como os espetadores se relacionam com a TV ou o entretenimento visual, particularmente no que diz respeito ao conteúdo gerado pelo utilizador.
A amostra incidiu sobre a população de estudantes universitários (tanto em Portugal como no Texas) e, de uma forma geral, os resultados sugerem que o público está a evoluir para um género que cria e utiliza o conteúdo de várias formas e em vários lugares. Os dados recolhidos referem, por exemplo, que recorrer ao computador portátil como forma de entretenimento é quase tão comum quanto usar a televisão.
O trabalho realça uma mudança de paradigma: “a capacidade de rapidamente fazer upload ou download de conteúdos, a possibilidade de experimentar uma variedade de conteúdo, de partilhar o próprio trabalho de forma simples e imediata, parece ser a aspiração da cultura contemporânea”, refere o estudo, que poderá ter implicações na forma como as indústrias de conteúdo vão responder às novas preferências das pessoas para os media "on-demand".
Coordenado pela Fundação da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FFCT/FCT/UNL), o ImTV teve mais cinco parceiros para além do INESC Porto, nomeadamente: a Cooperativa de Profissionais de Imagem CRL (Duvideo), a Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), a RTP, a Universidade do Texas em Austin (UT-Austin) e a ZON MULTIMÉDIA - Serviços de Telecomunicações e Multimédia, SGPS, S.A. (ZON).
Os investigadores com ligação ao INESC TEC referidos nesta notícia têm vínculo à seguinte entidade parceira do Laboratório Associado: INESC Porto, IPP e FEUP.
INESC TEC, março de 2014