Investigadores do INESC TEC desenvolvem ferramenta para facilitar doação de rins entre países
Chama-se ENCKEP (European Network for Collaboration on Kidney Exchange), o projeto europeu que envolve 28 países empenhados em facilitar a doação de rins entre países.
28 março 2019
São os investigadores do Centro de Engenharia e Gestão Industrial (CEGI) do INESC TEC os responsáveis pela criação da ferramenta tecnológica que vai facilitar estes processos. O INESC TEC e o Instituto Português do Sangue e da Transplantação são os únicos parceiros portugueses deste projeto.
Os objetivos do ENCKEP e a problemática da doação de rins entre países
Ana Viana, coordenadora do CEGI e vice-coordenadora neste projeto europeu, garante que a doação de rins é uma problemática transversal aos 28 países envolvidos.
Um dos grandes objetivos do ENCKEP é o de estimular o diálogo europeu, e identificar as melhores práticas na área da doação renal cruzada. Exemplos de boas práticas são “os critérios de afetação dos doentes aos dadores, o tipo de informação a ser usada sobre os doentes e quais os dados a considerar num teste preliminar de compatibilidade”, explica Ana Viana.
O projeto pretende ainda propor uma plataforma comum para partilha de dados e a otimização de modelos em programas internacionais, desenvolvendo e testando um protótipo transnacional. “Neste campo existem muitas preocupações éticas, legais e tecnológicas”, explica a investigadora do INESC TEC.
Participam neste projeto os seguintes países: Áustria, Bélgica, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, República Checa, Estónia, Finlândia, França, Macedónia, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Letónia, Malta, Holanda, Polónia, Roménia, Sérvia, Eslováquia, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia e Reino Unido.
As vantagens dos programas transnacionais
O aumento de escala resultante da implementação de programas transnacionais de doação renal cruzada tem um grande impacto nos pacientes renais que aguardam um transplante, uma vez que quantos mais pares estiverem nos programas, maior a probabilidade de encontrarem um órgão compatível.
Deste modo, países mais pequenos e que, por isso, têm programas nacionais de dimensão pequena, podem ver um maior número de doentes a serem transplantados. Mas, não é por isso que os países de maior dimensão serão descurados neste processo. Os países de grande dimensão retirarão deste programa também benefício da colaboração.
“Quando o projeto iniciou, não existiam programas transnacionais de doação renal cruzada. Essa colaboração neste momento já é uma realidade, não necessariamente por via do projeto, mas requer uma análise mais aprofundada sobre a melhor forma de operacionalização. Em particular, estando a falar de recursos escassos, os órgãos, é necessário entender de que forma esses órgãos devem ser distribuídos pelos países participantes de forma justa e, eventualmente, respeitando políticas que não seja possível uniformizar entre os diferentes países”, explica a investigadora.
A ferramenta tecnológica desenvolvida pelo INESC TEC
Já existe uma ferramenta de otimização para saber quais os “pares mais interessantes” para o transplante, desenvolvida pelo INESC TEC. Os investigadores do INESC TEC envolvidos neste projeto estão também responsáveis, no âmbito do consórcio, de estudar hipóteses e desenvolver modelos que reflitam a realidade.
O objetivo passa por apresentar um protótipo final em 2020, altura em que o ENCKEP termina.
Investigadores do projeto ENCKEP reúnem no Porto
Nos dias 11 e 12 de março, o INESC TEC recebeu no seu edifício sede uma série de instituições responsáveis por programas nacionais em vários países europeus, médicos e outros profissionais de saúde, engenheiros, matemáticos, computer scientists, entre outros, para um workshop do projeto. A organização do workshop esteve a cargo de Xenia Klimentova, também investigadora do CEGI e corresponsável de um dos grupos de trabalho do projeto, e de Ana Viana.
O evento teve como objetivos:
- Discutir aspetos éticos, legais, operacionais e organizacionais a endereçar no desenho de programas transnacionais;
- Discutir diferentes abordagens que poderão ser consideradas na otimização da partilha de recursos;
- Ouvir um conjunto de convidados internacionais, neste caso da Índia, dos Estados Unidos e do Canadá, sobre um problema que, apesar de na base ser o mesmo, tem formas de implementação e gestão totalmente diferentes nos países mencionados.
O projeto ENCKEP é financiado em aproximadamente 600 mil euros pela The European Cooperation in Science and Technology (COST).
As investigadoras do INESC TEC mencionadas na notícia têm vínculo ao INESC TEC e ao P.Porto-ISEP.